Quatro de Paus

Era uma noite de sexta-feira como qualquer outra, bebendo com os amigos no balcão do Bar do Gerson. Seria, se não tivesse chegado no local um rapaz de beleza única, seu rosto parecia desenhado pelos anjos mais puros que habitam o céu. Sua pele umber contrastava com os raros fios de cabelo grisalho que despontavam de sua testa. Ele tomou para si toda minha atenção. O rádio tocando Marília Mendonça já se tornara apenas um ruído distante e abafado, tudo que eu ouvia eram as batidas do meu coração cauteloso, intrigado, como se batesse contra o meu peito para me alertar de que o perigo estava próximo. O rapaz deslizou por entre as mesas, cada vez mais próximo de onde eu

estava, sentou-se confiante na cadeira de plástico amarela. O peso de seu corpo fez com que a cadeira rangesse, cedendo, esparramando milimetricamente suas pernas pelo piso. Com ele sentado bem de frente a mim, lutei contra meus próprios olhos que insistiam em procurar os dele. Não demorou muito para que outros homens se sentassem na mesa com ele, então, prestando atenção na conversa, pude descobrir seu nome. Rambo. Não havia um só ser nomeado por Deus que fizesse jus ao nome tão bem quanto ele. Rambo tirou do bolso de sua calça jeans desbotada e surrada um pacote de cartas de baralho, e com destreza começou a embaralhá-las e distribuí-las aos demais. Nunca

me interessei por jogos de cartas, mas comecei a prestar atenção, pois meu objeto de desejo parecia se divertir muito, ele era bom no que fazia. Talvez assim eu conseguisse me aproximar dele, de alguma forma. Aos poucos fui entendendo a mecânica do jogo, mas durante meu voyeurismo nossos olhos se cruzaram diversas vezes. Mesmo com seu rosto coberto pelas cartas até a altura dos olhos, meu corpo estremecia sempre que nos encontrávamos. E então, num movimento lento e gracioso, ele acenou para que eu fosse até lá. Não acreditei que fosse mesmo comigo. Talvez o álcool estivesse me fazendo alucinar, ou coisa parecida. Mesmo que fosse apenas um devaneio, eu não perderia essa oportunidade. Todos os outros saíram da mesa, ficamos apenas eu e ele. Frente a frente.
– Você joga? – Ele me perguntou com a voz firme. De perto, pude sentir o cheiro de cerveja barata exalando de seu corpo, seu hálito.
– Melhor do que os otários que estavam com você.
Menti. Pude ver seus lábios produzindo lentamente um sorriso de deboche, que em seguida viriam a me propor a mais deliciosa das apostas.
– Sendo assim, imagino que você não se importaria em apostar comigo. Se eu perder, você me toma como seu esta noite. Se eu ganhar, você será meu. O que acha? Somos todos amigos aqui, não somos?
Tentei não vacilar, não transparecer minha insegurança ou minha satisfação com a situação. Apenas concordei com a cabeça e recolhi as cartas postas na mesa. Não estava inseguro com as cartas que viriam a ser reveladas, pois de toda forma eu sairia ganhando naquela aposta, mas inseguro pois todos do bar me conheciam e sabiam que eu não jogava Truco. Temi que me denunciassem, mas ninguém o fez. Rambo colocou um Rei de Copas imponente, porém sem valor em cima da mesa. Quis acreditar que aquilo talvez fosse uma indireta, quis ter um Rei de Paus para colocá-lo em cima de seu rei de coração avermelhado. Joguei meu pobre Ás de Ouro, que não era muito mas era o suficiente para fazer a jogada. Confiante, pedi truco. Ele pediu seis. Irritado, aumentei o tom de voz e pedi nove, doze, sei lá como é que se faz isso. Rambo deitou deliciosamente seu quatro de paus em cima das outras cartas, anunciando sua vitória. Era um zap. Deslizou a carta pra perto de mim, e me ofereceu como recordação. Guardei a carta no bolso da camisa. Rambo se levantou das cadeiras e seguiu para os fundos do bar, calmo e gracioso como tudo que ele fazia. Eu o segui.
Quando satisfeito, Rambo parou e começou a abrir a fivela de seu cinto, abriu também o zíper e seu membro rígido pulou pra fora da calça naquele instante. Estremeci. Rambo me mandou colocar as mãos na parede. Eu exitei. Então, ele gentilmente pegou minhas mãos uma a uma e as repousou na parede chapiscada de cimento. “Vai ficar tudo bem, você está seguro comigo”, disse no meu ouvido enquanto acariciava seu próprio pênis. Olhei por cima do ombro e estremeci novamente ao reparar que o que estava prestes a me penetrar era tão grande, grosso, de um tom alaranjado como uma abóbora e farto de veias azuis. Era tão lindo quanto assustador. Todo o sangue do meu corpo se concentrou da cintura pra baixo, senti a pressão cair e os pensamentos ficando cada vez mais turvos. – “Se acontecer alguma coisa comigo… Você chama uma ambulância?” – Eu só conseguia repetir a mesma frase várias vezes, sem raciocinar direito. Rambo tomou isso como um elogio e deu uma deliciosa gargalhada, e assentiu. “Eu chamo a ambulância. Vai sangrar, afinal, são 28 centímetros..”
Ele disse enquanto abaixava minha calça e acariciava minha bunda com a lateral dos dedos. Mordi meu lábio inferior, num mix de tesão e medo. Era um pau grande demais pra mim, afinal meu cu não era um cu frouxo como de um poeta, era apertadinho, pouco utilizado. Mas eu tinha que arriscar. Rambo afastou minhas pernas uma da outra com o pé, e eu imediatamente as fechei novamente por reflexo, causando nele fúria o suficiente para me penetrar de uma vez, sem aviso. Eu gritei de dor, chamei por meu Deus e todos os santos, logo na primeira metida eu achei que não ia aguentar. Eu senti o sangue escorrendo pelas minhas pernas, minhas mãos ardiam machucadas pela textura da parede. Pedi para que parasse, mas ele continuou. Enfiava seu pau em mim com um ritmo contínuo, e gemia de prazer. Foi então que eu fiquei satisfeito em lhe dar prazer e comecei a prestar atenção nas sensações boas para esquecer a dor. Podia sentir sua respiração ofegante na minha nuca, suas mãos fortes me segurando pela cintura, me puxando e me empurrando como as ondas do mar. Sempre que sua pelve batia contra minha bunda era como se nossos corpos se aplaudissem mutuamente. Eu já não me importava se iam ouvir, nós gritávamos e urrávamos sob a luz da lua como lobos. Poderia ter sido uma noite como qualquer outra no bar do Gerson. Mas não foi.

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